sábado, 3 de maio de 2014

quando virei mãe

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Não foi qd vi a cruzinha azul no teste de gravidez. não foi qd escutei o coraçãozinho dele no ultrassom, pela primeira vez. não foi qd descobrimos que seria um menininho nosso primeiro filho, nem quando eu pintei seu quartinho e lavei suas roupinhas. durante a gravidez eu estava apaixonada pela ideia de ser mãe e pelo meu bebezinho, mas eu não era mãe ainda.

não foi na sala de cirurgia. e eu tenho um pouco de vergonha de contar isso. eu fui pra maternidade ansiosa sim, mas não era uma ansiedade boa. eu estava morrendo de medo de ser cortada. quase em pânico. e tentando disfarçar pra q ninguém me julgasse, afinal eu conheceria meu filho naquele dia. o resto era resto, né?

lembro quando a médica disse “vai nascer” e a fotógrafa foi pra trás do pano azul. em alguns segundos eu escutei um choro forte e achei surreal. não conseguia conectar aquele choro ao bebê q esteve na minha barriga por quase 10 meses. quando a doutora me mostrou ele de longe eu achei ele feio. inchado e enrugado. me lembrou um primo de quem eu não gosto muito. eu disfarcei de novo, com um peso no coração.

como eu não estava completamente apaixonada pelo meu bebê? como eu não estava em prantos de alegria?

mas as coisas começaram a mudar quando a pediatra colocou ele, ainda sujinho e chorão, grudado no meu rosto e ele parou de chorar e esticou as mãozinhas pra me alcançar. ali eu percebi q aquele ser não era um estranho. ele me conhecia! q incrível!

não me tornei mãe na primeira noite pq não passamos juntos. a maternidade demorou quase 6hs pra levar nosso bebê pro quarto, apesar de estar tudo ótimo com ele. nem na segunda noite, quando a pediatra nos orientou a acordá-lo a cada duas horas pra mamar e eu não consegui acordar. eu estava cansada, dolorida, ansiosa e a amamentação não estava sendo fácil.

quando chegamos em casa eu virei mais filha, mais bebê q o meu bebê. o neném só dormia e chorava. não mamava direito então tinha fome enquanto estava acordado. eu, em recuperação da cesarea, chorava no colo da minha mãe e quis q o meu bebê voltasse pra dentro da minha barriga. não conseguia acalmá-lo, não conseguia me acalmar. entregava ele chorando pra minha mãe, pro meu marido. tive pesadelos. liguei pra pediatra pra saber se ele podia morrer de tanto chorar, liguei pra obstetra e ela me orientou a ir procurar ajuda pra amamentar.

quando cheguei no banco de leite eu não era mãe. eu era uma mulher arrasada com um bebê no colo. mas os dois não estavam conectados.

meu filho nasceu numa segunda feira a noite. eu virei mãe no sábado.

virei mãe quando percebi q o choro do meu bebê não era só fome de alimento. era fome de mim. virei mãe quando resolvi q passaria o dia inteiro com ele no quarto. eu e ele. só. eu aprenderia a entender o seu choro.

eu daria calor e peito o quanto ele quisesse. a gente dormiria abraçadinho.

ele se sentiria amado e seguro, não importa o quanto eu estivesse insegura e despedaçada.

e percebi q seria assim pra sempre.

Um comentário:

  1. É bem assim. Não senti amor pela barriga, nem chorava nas ultras... Não me reconheci logo de cara nele e fiquei assustada quando o pediatra o deixou no meu colo por tanto tempo e ele não parava de chorar, acho que não queria ter saído da minha barriga. Na maternidade foi festa x luto, em casa luto x desespero.... Passei uns 2 dias achando que ele poderia morrer a qualquer momento. Mas tudo passou no momento em que a cria dormiu do meu lado, em casa... Na sala, com o marido junto e fazendo qualquer outra coisa, dá para ouvir o estalo do exato momento que você vira mãe, com uma família incrível e uma vida toda por vir. O puerpério maio é nada fácil mas a gente se vira!

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